O Medo Dentro de Nós

Hoje, estava escutando a música The Enemy Within, do Rush (que novidade!), e me lembrei que ela faz parte de uma Trilogia de quatro músicas (!?): Witch Hunt, do disco Moving PicturesThe Weapon, do álbum Signals; a própria The Enemy Within, do disco Grace Under Pressure; e, finalmente, Freeze, do disco Vapor Trails (preciso que vocês me cobrem mais para que eu escreva sobre esta música!).

Lembro-me de ter lido em algum lugar que Neil Peart, baterista e letrista do Rush, comentou sobre esta trilogia: que alguém certa vez disse a ele que o que move a Humanidade não é poder, não é dinheiro, não é a busca da felicidade, mas sim, o medo. E, ao analisar as pessoas à volta dele, ele começou a perceber que havia um fundo de razão nesta afirmação. Assim, ele decidiu escrever três músicas: como o medo trabalha dentro de nós (The Enemy Within), como o medo pode e é usado contra nós mesmo (The Weapon) e como o medo atua quando presente emuma multidão (Witch Hunt). Mais ou menos 20 anos depois, ele escreveu a quarta parte, Freeze, que fala sobre o momento de decisão, o momento em que decidimos fugir ou lutar.

Things crawl in the darkness,
That imagination spins
Needles at your nerve ends,
Crawl like spiders on your skin

Assim começa a letra da música, já deixando claro que o medo, na maioria das vezes, é produto de nossa imaginação ou de nossa mente. A maneira como as frases iniciais são colocadas podem, efetivamente, causar a sensação de medo em quem tem, por exemplo, medo de aranhas. Afinal, o medo pode ser descrito como uma reação emocional, com consequências físicas. Normalmente, o que precede o medo é a ansiedade, e a intensificação do medo gera o pavor. Por fim, o medo pode se tornar uma doença: a fobia.

Se você tem medo de aranhas, por exemplo, provavelmente você irá se comportar como no próximo verso:

Pounding in your temples,
And a surge of adrenalin
Every muscle tense
To fence
The enemy within.

Brilhantemente, aqui ele começa a delinear as reações que o corpo humano têm quando confrontam uma situação de medo. Quantas e quantas vezes não sentimos medo de algo interiormente, mas procuramos não demonstrar isso para as pessoas à nossa volta? Damos desculpas que talvez enganem todo o mundo, menos nós mesmos:

I’m not giving in to security under pressure
I’m not missing out on the promise of adventure
I’m not giving up on implausible dreams
Experience to extremes
Experience to extremes

Após o refrão, ele retorna mostrando como nossa mente pode distorcer a realidade, e como nosso corpo responde a estes estímulos:

Suspicious looking stranger
Flashes you a dangerous grin
Shadows across your window
Was it only trees in the wind?

Every breath a static charge,
A tongue that tastes like tin
Steely-eyed outside to hide
The enemy within

E o que fazer neste momento de crise? Que atitude tomar quando o medo já se apossou de nossa vontade? Como a mente já distorceu a realidade (ou não!), fica muito difícil tomar uma atitude sensata no momento em que o medo está atuando. Normalmente ficamos congelados, travados, sem conseguir quebrar esta fração de segundo que parece durar uma eternidade. E aqui, mais uma vez, para mostrar como estamos agindo neste momento, mas sem dar uma saída simples, uma receita de bolo que possa ser seguida sempre:

To you, is it movement or is it action?
Is it contact or just reaction?
And you: revolution or just resistance?
Is it living, or just existence?
Yeah, you! It takes a little more persistence
To get up and go the distance

A resposta, entrelinhas, está no eterno embate entre nossos lados ativo e passivo. Você pode aguardar ou agir. Pode, como brilhantemente colocado, “viver ou existir”. A escolha é de cada um, e vemos à nossa volta, todos os dias, pessoas que existem, e não sabem que estão vivas.

E você, vai deixar o medo te dominar?