Pronto Para Criar?

No artigo anterior, que foi exatamente o sétimo artigo, fizemos um resumo do que foi explanado até o momento aqui no Não F*de, Yesod! E o resumo dos primeiros sete artigos pode ser descrito como uma pequena parcela de Ma’aseh Bereshit, isto é, o Trabalho da Criação. Falamos sobre o que é Cabalah, sobre as letras hebraicas, sobre os números, sobre a comunicação, bem como sobre a reverência que se deve ter, não por medo ou desafio, mas como um estado de espírito permanente e imanente, percebendo a Misericórdia e o Julgamento na Beleza da Criação (voltaremos a estas palavras em breve). E hoje vamos tentar penetrar nesta Beleza de uma forma diferente.

Você já assistiu a trilogia Guerra nas Estrelas? Ou pelo menos um filme da trilogia? Ou, caso não seja um fã de ficção científica, provavelmente já deve ter ouvido falar ou visto vídeos ou fotos com o famoso sabre de luz, considerada no universo Star Wars como “uma arma elegante, para uma era mais civilizada”. Em essência, é uma arma no formato de uma espada de luz, que pode ser usada por um Cavaleiro Jedi (do “bem” – entre aspas de propósito) ou por um Sith (do “mal”).

E daí?

Vou propor um exercício mental para você: se você precisasse criar um sabre de luz, quais seriam as etapas necessárias?

Pense nisso e retorne em breve…

Já de volta? Está bem, então. Vamos prosseguir.

De acordo com a Cabalah, tudo, absolutamente tudo no Universo segue um conjunto de leis muito bem definidas. Das ligações atômicas ao giro das galáxias, da relação entre mãe e filho a uma transação comercial, do ato sexual entre dois amantes a um crime hediondo, do farfalhar das folhas em uma tarde de outono a um concerto de rock: tudo segue as mesmas leis “cabalistas”. Saber, Entender e Conhecer estas leis é o grande segredo da Cabalah, a receita para uma vida equilibrada.

Tão abrangentes são essas leis que elas se aplicam até mesmo à ficção. No nosso caso, a criação de um sabre de luz como parte de um treinamento de um Cavaleiro Jedi. Vamos ver como um sabre de luz completamente funcional poderia ser criado.

A primeira etapa é o próprio processo criativo: iremos criar algo, do nada. Porém, antes de criarmos algo, temos que primeiramente ter a percepção do que será criado, e então abrir um espaço em nossa bancada de trabalho para permitir que a criação ocorra. A partir daí, teremos o princípio criativo, aquilo que dá movimento efetivamente à todo o processo da criação. No nosso caso, já sabemos que iremos criar um sabre de luz, e esta é a primeira etapa de todo o processo, a fase que coroa toda a criação, sem a qual nada se pode ser feito.

Assim que temos idéia do que será criado, inicia-se a segunda etapa do processo. Uma expansão de idéias invade o processo criativo como uma enxurrada de propostas, que vêm em desabalada, completamente sem freio: cores do feixe luminoso do sabre de luz, comprimentos os mais variados, estilo e materiais da manopla, tipo de acionador, etc, etc, etc. São tantas as idéias, às vezes até mesmo absurdas, que pode até mesmo acontecer de se cogitar idéias que são completamente impossíveis de se colocar em prática. Mas isso não importa neste momento, pois a mente é fértil, e não há limites para a imaginação humana. Neste ponto, a idéia começa a tomar forma – apesar de ainda completamente indefinida – baseada na sabedoria do momento. Idéias absurdas são descartadas, mas não há a necessidade, ainda, de avaliar o que deve ou não ser feito.

Isto é o papel da terceira etapa do processo: entender o que é possível ou não, bem como entender “como” o sabre de luz pode ser construído, e quais serão as suas características. É um processo de total contração: se na etapa anterior, tudo era possível, nesta etapa tudo tem de ser definido: a cor do feixe de luz, os materiais a serem utilizados na manopla, qual o comprimento do feixe de luz, etc. Se na etapa anterior utilizávamos toda uma gama de possibilidades para saber quais tipos de sabres de luz eram possívels – ou não – de serem feitos, nesta etapa é preciso definir, precisamente, cada mínimo detalhe da nossa criação. Sem esta limitação das possibilidades em algo bem definido, o processo criativo simplesmente morre: é como querer escrever um livro sobre um assunto indefinido.

Uma vez na posse dos elementos necessários para a criação de nosso sabre de luz, vem a fase mais crítica de todas: colocar em prática toda a sabedoria adquirida em anos de treinamento como Padawan (aprendiz), ao mesmo tempo em que temos a consciência, o entendimento claro e preciso de como será o nosso sabre de luz, para efetivamente chegarmos ao conhecimento sobre o “como” fazer. De forma bem interessante, esta etapa é a única do processo criativo no qual uma decisão referente à continuidade ou não da construção do sabre de luz pode ser tomada, independentemente da vontade do construtor. Afinal, caso o Padawan perceba – com o entendimento do objetivo claro e com toda a sabedoria adquirida em anos de treinamentos – que não é possível – mesmo que por enquanto – continuar a criação do sabre de luz, todo o processo será interrompido. Caso contrário, o conhecimento é efetivado, e o processo criativo pode continuar. Ou seja, esta não é uma etapa de realização, mas sim um etapa de decisão.

Uma vez que o conhecimento foi efetivado, inicia-se efetivamente o processo de construção do sabre de luz. Isto é interessante quando colocado desta forma, pois é como se o processo “descesse um nível”, saindo do aspecto puramente das idéias para, enfim, chegar ao processo de montagem efetivamente do sabre de luz, sem abandonar, porém, tudo o que foi apreendido nas etapas anteriores. Este é o momento da tentativa, onde diversas idéias surgem, e vamos experimentando uma a uma, sem muito critério, pois estamos enamorados com o princípio criativo. Agimos com misericórdia, não descartando nenhuma idéia, por mais tola que possa parecer. É como se tudo fosse possível, e as peças de nosso sabre de luz começam a se encaixar, e a tomar forma.

Tudo vai indo bem, até chegar a hora do julgamento: é quando, durante o processo de criação do nosso sabre de luz, paramos e analisamos de forma extremamente crítica tudo o que foi feito até o momento. É nesta hora que percebemos que aquela manopla verde-limão não irá combinar com o anel estabilizador lilás, e algo terá de ser refeito de forma diferente para voltar a atingir um equilíbrio. Afinal, durante a fase anterior, onde tudo era possível, as idéias mais uma vez se expandiam, sem limite; agora, as idéias têm de, novamente, se restringir ao que efetivamente irá dar origem a um sabre de luz digno de um poderoso Jedi ou Sith.

Este fluxo entre tentativa e acerto, entre misericórdia – onde tudo é possível – e julgamento – onde tudo é avaliado – vai se repetindo, até que o nosso sabre de luz começa a tomar forma cada vez mais graciosa. A beleza do sabre de luz, que é o resultado de anos de treinamento intenso, de juramentos e privações, começa a surgir, nos enchendo de alegria. O sabre de luz está pronto; porém, é apenas um sabre de luz. É necessário que nós nos adaptemos ao sabre de luz, e que ele se adapte a nós.

Para isto, é preciso treinamento. Muito treinamento. Treinamento à exaustão. Mais uma vez descendo de nível – inicialmente, era a concepção, depois a construção, e agora, o treino físico – inicia-se uma repetição até a exaustão, que parece durar uma eternidade, permitindo que o Padawan basicamente aprenda a não apenas controlar o sabre de luz com a chamada Força (sério: se não assistiu Guerra nas Estrelas, assista pelo menos o Episódio IV), mas principalmente passar a fazer isto de forma instintiva, sem raciocinar ou racionalizar. De cunho essencialmente expansivo, não há limite para o tempo de treinamento de um Padawan; aliás, mesmo após se tornar Jedi ou Sith, o treinamento continua, dia após dia, sem fim ou limite, até que se torne algo natural, instintivo.

Quando o Padawan e o sabre de luz se tornam um parte do outro, o treinamento está quase completo. Neste momento, o Padawan e o sabre de luz entram em sintonia, em reverberação. É o momento em que o Padawan adquire a consciência voluntária de sua destreza involuntária. Complicado? Em outras palavras, e quando o Padawan percebe que pode deixar de ser um aprendiz e se tornar um mestre. Com tudo o que aprendeu e desenvolveu, é nesta etapa que o Padawan completa, efetivamente, o seu treinamento. Não é suficiente que ele seja extremamente bem treinado; é imprescindível que o Padawan tenha a consciência disto.

Chegamos, então, ao ponto crítico de todo o processo. O ponto da virada. A etapa em que o Padawan fará o teste final, para se tornar um mestre, efetivamente. Porém, não é apenas um teste simples – é um teste que poderá afetar toda a fundação do Padawan, fazendo com que ele decida, neste momento, dirigir-se mais para um ou outro lado da Força – o lado da Luz, se tornando um Jedi, ou o lado Negro, se tornando um Sith. Aqui, o aluno pode exercer sua percepção, percebendo, de acordo com suas escolhas, qual caminho tomar. Perceba que não há um caminho errado, pois o caminho é sempre neutro; quem o trilha é quem define sua essência.

Finalmente, a última etapa de todo o proceso: a efetiva realização do objetivo: o Padawan se torna um mestre, seja Jedi, seja Sith, principalmente de acordo com o caminho escolhido na etapa anterior. Ele então se torna soberano em seu reino, com plena capacidade de recrutar e treinar novos Padawans, iniciando, mais uma vez, o ciclo.

Bem, chegamos ao fim do processo de criação. Porém, mais do que um processo de criação, este é um processo universal, que contempla tudo o que é ou existe. Tudo. Aqui usamos o exemplo da formação de um Jedi ou Sith, de acordo com a mitologia de Star Wars. Porém, poderíamos ter usado um relacionamento entre chefe e empregado, a criação de um livro, uma receita de bolo, etc. Enfim, tudo no Universo segue estes passos:

  • Coroa
  • Sabedoria
  • Entendimento
  • Conhecimento – o ponto da decisão
  • Misericórdia
  • Julgamento
  • Beleza
  • Eternidade
  • Reverberação ou Esplendor
  • Fundação
  • Reino

Usando o exemplo acima, tente imaginar todos estes passos a (literalmente) qualquer coisa. Mande sua sugestão para explicação para  mim. A melhor sugestão será explicada no próximo artigo.

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