Revendo o Começo… Mais Uma Vez…

Apesar da jornada mal ter começado (afinal, só demos os dois primeiros passos), algumas dúvidas já surgem entre alguns que leram estes textos. A primeira dúvida é bem pertinente, pois questiona de quanto em quanto tempo haverá novos artigos. A resposta é simples: no mínimo, uma vez por semana. Espero, sinceramente, poder postar um artigo por dia muito em breve, mas, principalmente neste início, a base precisa possuir uma forte Fundação (olha o Yesod aparecendo), para que a construção não desmorone depois. Já a segunda dúvida refere-se ao objetivo deste blog. Eu poderia dar algumas respostas padrões, tais como: “Eu faço isso porque gosto”, “Acho importante compartilhar um pouco do conhecimento que tenho”, ou outras respostas do tipo. Porém, a verdade é que fixar um objetivo acaba por engessar muito as escolhas. Digamos que esta é uma viagem pelas estradas da Cabalah, e estou compartilhando com cada um de vocês as belas fotos que tiro da paisagem.

No artigo anterior, terminamos deixando no ar dois novos conceitos: Ma’aseh Bereshit e Ma’aseh Merkavah, que pode ser traduzidos como Trabalho da Criação (Ma’aseh Bereshit) e Trabalho da Carruagem (Ma’aseh Merkavah). Neste artigo iremos focar apenas em Ma’aseh Bereshit.

Apenas a título de curiosidade, vamos aproveitar para abrir um parêntese no que diz respeito ao nome em hebraico dos livros na Torah, que são:

  • Bereshit (“No Princípio”, traduzido para a Bíblia como Gênese), por que o livro começa exatamente com a palavra Bereshit
  • Shemot (“Nomes”, traduzido como Êxodo), já que o livro começa com a expressão Va-eleh shemot, que é traduzido como “E estes são os nomes”
  • Vayicrah (“E chamou”, traduzido como Levítico), que é como o livro se inicia
  • Bamidbar (“No deserto”, traduzido como Números), pois o livro se inicia com a frase “E falou D’us a Moisés no deserto”
  • Devarim (“Palavras”, traduzido como Deuteronômio), pois o livro se inicia com a expressão Eleh devarim, traduzida como “Estas são as palavras”.

Isto posto, retornemos aos nossos TrabalhosMa’aseh Bereshit foi uma das primeiras formas do misticismo judaico, e, de certa maneira, uma precursora da Cabalah. Sua essência está na interpretação bastante aprofundada do primeiro capítulo do Gênese (Bereshit), que relata como D’us criou o Universo. Este foi um movimento importante, pois as linhas mais ortodoxas do judaísmo proibíam a discussão do que havia ocorrido nos seis primeiros “dias” da Criação. Isto fez com que alguns estudiosos começassem a questionar o que estava exposto em Bereshit, analisando o texto de forma não-literal, o que gerou a base primordial para o desenvolvimento da Cabalah.

Diversos conceitos de Ma’aseh Bereshit, surgidos desde o século II a.C., são tão atuais ainda hoje, que chegam a ser até mesmo assustadores. Por exemplo, os primeiros versículos do primeiro capítulo de Bereshit dizem exatamente isto:

No princípio criou D’us os céus e a terra. E a terra era vã e vazia, e (havia) escuridão sobre a face do abismo, e o espírito de D’us se movia sobre a face das águas. E disse D’us: “Seja luz!” E foi luz.

Desta pequena passagem podemos inferir alguns conceitos interessantes:

  1. O Universo como o conhecemos teve um princípio, criado por D’us.
  2. D’us criou, ao mesmo tempo, o mundo material (terra) e o mundo espiritual (céus).
  3. Mesmo após a criação, a “terra era vã e vazia”, ou seja, mesmo já existindo o mundo material, ele ainda era vazio, não continha matéria.
  4. Havia um abismo entre D’us e a Criação, um “espaço” vazio e escuro. Isto é condizente com outra afirmação da Ma’aseh Bereshit que diz que D’us “abriu” um espaço em si mesmo, e neste espaço, neste vazio, criou o Universo.
  5. Ao dizer “Seja luz!”, D’us deu início à criação material, iniciando-se com a explosão de luz que dispersou toda a matéria existente no nosso Universo.

Esta descrição é muito semelhante ao que os cientistas já comprovaram sobre o Big Bang, a explosão primordial que formou o Universo. Porém, como o âmbito de atuação da ciência é a matéria – pelo menos por enquanto -, o máximo que os cientistas conseguiram comprovar refere-se aos milissegundos posteriores ao Big Bang, ao “Seja luz!”, pois este é o domínio da matéria. Jamais teremos a capacidade de compreender os momentos anteriores ao “Seja luz!”, e achar que podemos é uma pretensão tão absurda que chega a beirar o ridículo

Esta é uma análise muito superficial e resumida de um dos aspectos da Ma’aseh Bereshit. Caso você queira se aprofundar neste assunto, leia o livro Sefer Yetzirah, citado no artigo anterior. Mas, antes, uma palavra de aviso: como citado anteriormente, muito do que foi escrito nos livros de Cabalah foi feito de forma cifrada. Algumas chaves são necessárias para se entender o conteúdo. Sem estas chaves, que serão citadas mais para a frente, é praticamente impossível se captar os profundos sentidos destas obras.

Até aqui, já vimos, em linhas gerais, o que é a Cabalah, um pouco de sua história, e uma parte importante de sua fundação, a Ma’aseh Bereshit, que mostra como tudo o que vemos – ou não – ao nosso redor foi criado. Mas a parte mais interessante, mais fantástica e mais deslumbrante desta jornada está para começar: prepare-se para subir na Carruagem divina e, se estiver disposto, iniciar a viagem da sua vida!