Sim… ou Não… Nunca Talvez!

Terminamos o último artigo estabelecendo que quando o feminino e o masculino se unem em perfeita harmonia, tudo é possível. Não apenas um homem e uma mulher, mas a razão e a emoção, a força e a beleza, a contração e a expansão. Opostos que gravitam um ao redor do outro em uma dança íntima, atraente e atrativa, uma parte convidando a outra a se unirem, desinteressados, para servir ao propósito da Criação. Em outras palavras, Chokmah e Binah se entrelaçando para permitir que a Vontade Divina continue o seu caminho rumo à realização total e irrestrita.

Uma das principais características de toda a Criação é a imanência com D’us, o Criador. Se analisarmos em um dicionário, veremos que uma das possíveis definições para a palavra imanente é um adjetivo que caracteriza algo que está contido de maneira inseparável na natureza de um ser ou de um objeto. Assim, quando falamos da imanência de D’us, queremos dizer que  D’us está contido, de maneira inseparável, em Sua Criação, conforme já tratamos em um artigo anterior.

Porém, ao mesmo tempo, D’us é o Criador de toda a Criação, é o D’us transcendente do qual já tratamos em outro artigo. O D’us transcendente atua em Sua Criação através de Sua Vontade, emanada diretamente em Keter, após ter cruzado os três véus (Ayin, Ayin Sof, Ayin Sof Or). Agora, como atua o D’us imanente? Se, na árvore da Criação, conseguimos “visuzalizar” o D’us transcendente exercendo a sua Vontade através de Keter, onde “fica” o D’us Imanente, aquele D’us que São João da Cruz descreveu poema A Noite Escura da Alma no fim do século XIV:

Oh, noite que me guiaste!
Oh, noite amável mais que a alvorada!
Oh, noite que uniste
O amado com a amada,
Amada no amado transformada.

O D’us imanente é representado, dentro da Árvore da Vida, não como uma sefirah, pois cada sefirah é uma emanação direta da Vontade de Divina, mas sim como um “espaço” bem abaixo de Chokmah e Binah, na mesma coluna de Keter, como que lembrando que o D’us transcendente “está lá em cima”, e o D’us imanente está dentro da própria Criação, por expressa vontade divina!

Esta não-sefirah se chama Da’at (דעת), que significa crença ou conhecimento, termo que tem um pouco mais de sentido considerando-se que o conhecimento é a aplicação do entendimento (Binah) proveniente da Sabedoria (Chokmah).

Porém, se analisarmos Bereshit 4:1:

E o homem (Adão) conheceu a Eva, sua mulher…

Vemos aqui a palavra Da’at (conheceu) em um sentido muito mais amplo, que é a união do princípio ativo que é Chokmah com o princípio passivo que é Binah, resultando no efetivo ponto em que a Criação “compreende” o seu, digamos, propósito ou sentido. Da mesma forma em que a união entre um homem e uma mulher gera uma nova vida humana, é como se o aspecto masculino e feminino da Vontade Divina se unissem e acabam por “dar a vida” ao D’us imanente. Não por acaso, Chokmah é também chamado D’us-Pai e Binah é chamado D’us-Mãe, não no sentido de definição de gênero, mas sim na definição do aspecto, ou arquétipo, da sefirah em questão.

Da’at possui um papel muito importante, pois serve como um interruptor do circuito da Árvore da Vida, podendo interromper o fluxo de energia que vem da tríade acima formada por Keter, Chokmah e Binah. Quando isto acontece, a folha se desprende da árvore, um óvulo é fecundado por um espermatozóide, um ser vivo exala sua última respiração. É daqui que vem a expressão “não cai uma folha de uma árvore sem que D’us permita”, e também é daqui que podemos concluir, sem sombra de dúvida, que D’us é onipotente – interruptor que pode, a qualquer momento, cessar o fluxo de energia -, onisciente – Da’at é conhecimento, cuja fonte é a Sabedoria Divina e o Entendimento Divino – e onipresente – está localizado em Da’at em toda a Criação.

Da’at também representa o ponto em que todas as sefirot se unem, em perfeição, de onde podemos deduzir que Da’at é a “mescla” de todas as sefirot e de seus caminhos, compondo os 32 Caminhos de Sabedoria citado no início do Sefer Yetzirah. Ou seja, em Da’at está a representação de toda a Criação. Porém, por ser uma não-sefirah, Da’at impede que o fluxo de energia que vem dos níveis inferiores da Árvore da Vida possa alcançar os níveis superiores (em parte; veremos sobre isto mais à frente).

É importante notar que alguns autores consideram Da’at (e não Keter) como uma sefirah; outros pensam o contrário. Isto não influencia no resultado do estudo da Árvore da Vida em termos usuais e, portanto, continuaremos com os nossos estudos levando em conta que Da’at é uma não-sefirah.

Se assim D’us permitir!