The Bell Tolls For Thee

Suddenly you were gone
From all the lives
You left your mark upon

Hoje é um dia extremamente triste para mim e para a maioria dos fãs de Rush. Estão sendo divulgadas diversas notícias – confirmadas por vários meios – que Neil Elwood Peart faleceu dia 07/01/2020 após lutar contra um câncer de cérebro por três anos.

Antes de prosseguir, estava planejando voltar a escrever no blog desde o fim do ano, com a migração de meus antigos blogs para cá. O que eu não esperava é que seria sob luto e tristeza.

O primeiro pensamento que veio à minha mente foi: “deve ser fake”. Este pensamento foi varrido ao consultar freneticamente o Twitter, Instagram, Reddit e outras redes sociais para constatar o fato: Neil Elwood Peart, provavelmente o melhor baterista que este mundo já teve a honra de hospedar – e provavelmente nunca haverá outro que chegue perto de sua proficiência atrás das baquetas – realmente faleceu.

A primeira coisa que fiz foi escutar Afterimage, cujo verso de abertura abre também este artigo. Me debulhei em lágrimas escutando a música. Deixei tocar as próximas (Resist, YYZ, Presto e Middletown Dreams) quando veio a música Dreamline. O seguinte verso mudou meu foco e percebi que ao invés de lamentar, eu deveria me regojizar por ter tido a oportunidade de ter sido contemporâneo dos “três patetas”:

Learning that we are only immortal
For a limited time

E agora, a medida em que mais notícias chegam e pessoas que me conhecem e sabem de meu gosto musical me mandam fotos e links de notícias, definitivamente a tristeza vai cedendo lugar a uma melancolia – e essa é a mágica do Rush: os momentos de maior tristeza vão se dissolvendo, os problemas vão ficando para trás, e as músicas e letras fazem você perceber, mesmo que em uma escala infinitesimal, que tudo é passageiro. E agora que Anthem está tocando:

Keep on looking forward
No use in looking round
Hold your head above the crowd
And they won’t bring you down

E, como um click, me lembrei de um texto do próprio The Professor que traduzi há alguns anos, que faço questão de postar aqui:

Growth Rings

Neil Elwood Peart

Nós humanos também possuímos nossos anéis de crescimento, e usualmente nós medimos aqueles anos, aqueles triunfos e tormentos, através da música. As canções de nossa juventude, das quadras de esporte, dos nossos tempos bons e ruins, tudo permanece vivo dentro de nós por toda a nossa vida. A música está fortemente entrelaçada com nossas memórias, seus ritmos e harmonias carregando tantas coisas que nem mesmo possuímos palavras para descrever – é um tipo de energia espiritual, que lembra um sonho, e também emocional, e tão enraizado em nós que o simples fato de escutar uma melodia à distância pode nos transportar instantaneamente de volta para outro tempo e espaço.

Através da história humana, a música sempre esteve no coração da adoração religiosa e outras celebrações. De cavernas a catedrais, de túmulos sagrados a tendas de renovação, a música comunal tem o poder de unir as pessoas – inspirando e reforçando suas crenças comuns. A música está em nosso DNA; a música está em nossas veias; a música está em nossos anéis de crescimento.

No início houve uma caixa, talvez apenas um tronco oco. Um graveto de madeira batucando nela carregava mensagens por grande distâncias – esta era a verdadeira “bateria falante”. No início dos tempos, antes do surgimento dos metais, todos os instrumentos teriam sido de madeira, com melhorias vindas de pele, ossos e tripas animais.

No nosso mundo moderno de materiais sintéticos e robóticos, o casamento abençoado entre a arte e a natureza sobrevive através da criação de instrumentos musicais. Madeiras selecionadas e outros elementos são escolhidos e artisticamente transformados, com técnicas tanto ancestrais quanto modernas, em objetos que se tornarão vozes humanas – câmaras aparentemente simples de tonalidade e ressonância que carregarão idéias e emoções para dentro das profundezas do espírito – mundos de canções e estórias.

Uma árvore caída se ergue novamente – vive novamente. Onde antes dava sombra, agora há luz. Artistas trabalham com seus instrumentos para criar uma estória que irá marcar seu lugar no mundo, e talvez, se forem excelentes e afortunados, deixarão uma marca em seu próprio mundo, para então serem medidos e contados como parte de nossos anéis de crescimento.

Professor, sem sombra de dúvidas, you left your mark upon.

Neil Elwood Peart (12/09/1952 – 07/01/2020)

2 respostas para “The Bell Tolls For Thee”

  1. Você, como poucos, entende a mente do Professor. Como é bom ter compartilhado do mesmo planeta que ele. PEART é eterno!

  2. Profunda tristeza por essa notícia! Como você mesmo disse André, “…nunca haverá outro que chegue perto…”.

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