Por que Estou Aqui?

Na música Roll The Bones, do Rush, uma pergunta ecoa ao longo de todo o refrão: Why are we here? Por que estamos aqui? Acredito que esta é uma pergunta que muitos de nós fazemos ao longo de nossas vidas, até mesmo de forma constante. Porém, à medida em que evoluímos em um caminho, é uma tendência natural que esta pergunta nos seja apresentada de forma mais constante, ou até mesmo de forma mais pungente.

Ao longo destas duas últimas semanas, fui, juntamente com alguns outros amigos, confrontado com esta pergunta, de uma forma como jamais fui confrontado anteriormente. Um grande amigo e mestre nos perguntou o real motivo de estarmos aqui e o real motivo de querermos as coisas que queremos. E, pela primeira vez, notei que eu não estava me escondendo em respostas vagas ou desculpas esfarrapadas. Eu simplesmente não sabia o “por que”.

Parei para analisar diversos fatores sobre as perguntas que ele fez, e cheguei à conclusão (espero que temporária) de que não haverá, nunca, uma resposta satisfatória. É mais ou menos como atesta o Guia do Mochileiro das Galáxias:

Há uma teoria que diz que, se um dia, alguém descobrir exatamente qual é o propósito do Universo, e por que ele está aqui, ele desaparecerá instantaneamente e será substituído por algo ainda mais bizarro e inexplicável. Há uma outra teoria que diz que isso já aconteceu.

Douglas Adams, em O Guia do Mochileiro das Galáxias

Todos nós estamos vivos. Isso é um fato! E todos vamos morrer um dia. E isto também é um fato. Nossas vidas nos foram presenteadas, não importa por quem (Deus, Alah, Jeová, ou o Nada), e, mais cedo ou mais tarde, este nosso corpo físico se extinguirá. Mas, qual é o objetivo disto tudo? Qual a REAL motivação para fazermos o que fazemos, buscarmos o que buscamos, já que nossa insignificante existência físca se resume a uma fração de tempo e de espaço tão infinitesimal, quando comparada com a vida e dimensão do Universo, que nada, absolutamente nada que façamos faz a mínima diferença. A máxima distância que um ser humano já alcançou, fisicamente falando, foi a Lua (e algumas pessoas ainda não acreditam nisto). Qual a influência que os seres humanos possuem sobre o Universo? Será que há como influenciarmos de alguma forma, pelo menos a história de nosso sistema solar? Tudo indica que, em um futuro próximo, isto não é possível.

Nós estamos confinados a este planeta, fadados a viver nossas vidas sob um pretenso falso controle. Nós viajamos a milhares de quilômetros por segundo neste Universo extremamente vasto, sem rumo, e o máximo com que nos preocupamos é se teremos o que precisamos ter para sobreviver.

Mas, e sob um ponto de vista espiritual, o que muda? Quase nada. Se as crenças que temos, sejam lá quais forem, tiverem fundamento (afinal, para a grande maioria são apenas crenças, e não fatos), há dentro de nós uma alma, espírito, essência ou seja lá o nome que cada um de vocês queira dar (deste ponto em diante, estou assumindo que o que estou escrevendo é algo próximo da verdade; caso não concorde, a área de comentários está aí, logo embaixo, pronta para receber suas opiniões). Esta essência, “imagem e semelhança do Criador”, é imortal, e se desprenderá deste corpo físico no momento da morte, e continuará sua existência por toda a Eternidade. Alguns acreditam (eu, por exemplo, acredito) que esta essência visitará este e talvez outros mundos mais algumas vezes, em uma nova forma física.

E, aí, se temos uma essência, pura e imortal, qual o objetivo de estarmos hoje, aqui, lendo este texto? Temos uma “vida” cuja duração é infinita, em um estado muito mais puro, e que, para esta essência, os nossos problemas mesquinhos (dinheiro, sexo, comida, trabalho, impostos) não é nada! Para que me esforçar aqui, sendo um bom profissional, um profissional ético, se tudo o que aprendo aqui não servirá de nada quando minha essência se libertar?

Bem, todos estes pensamentos têm passado pela minha mente de formas cada vez mais claras. Porém, mesmo sabendo que a resposta não está ao meu alcance, não enquanto eu estiver encarcerado nesta forma física patética, esta minha essência grita dentro de mim para que eu aproveite cada instante, cada momento, ao máximo.

Eliphas Lévi diz:

Os espíritos humanos têm a vertigem do mistério. O mistério é o abismo que atrai, sem cessar, nossa curiosidade inquieta por suas formidáveis profundezas. O maior mistério do infinito é a existência de Aquele para quem e somente para Ele − tudo é sem mistério. (…) Deus é o que aprenderemos eternamente a conhecer. É, por conseguinte, o que nunca saberemos.

Eliphas Lévi, em A Chave dos Grandes Mistérios

Nossa existência, talvez, se resuma a isto: a eterna busca d’Aquele que nos criou, e nos colocou aqui, neste momento. Talvez jamais o compreendamos, porém, jamais devemos abandonar esta busca.

Talvez, por isto mesmo, o refrão de Roll The Bones seja assim:

Why are we here?
Because we’re here
Roll the bones
Why does it happen
Because it happens
Roll the bones

E é por isso que estou aqui: porque estou!