Beneficência

Hoje de manhã, estava me dirigindo ao trabalho, e no som do carro estava tocando uma música – adivinhem – do Rush: Territories, do álbum Power Windows. Talvez por fazer um tempo já que não escutava esta música, procurei prestar mais atenção à letra. E, de repente, um tapa na cara:

Don’t feed the people,
But we feed the machines

Isto foi escrito em 1985, em um país de primeiro mundo – Canadá -, porém, é uma situação mais atual do que nunca. Vamos dividir a frase acima em duas partes, para analisar melhor este conteúdo.

Por “Não alimentamos as pessoas”, não se trata apenas de alimento comestível, por assim dizer, já que alimentar significa fornecer os meios necessários à sobrevivências. E o que “as pessoas” precisam para sobreviver? Alguns podem dizer que um prato de arroz e feijão é o suficiente. Mas, para analisarmos mais profundamente, vamos levar em conta um dos princípios da Cabalah, que diz que “você é um corpo físico, que carrega uma mente, que carrega uma alma, que carrega um espírito”.

Para o corpo físico, são necessários comida, água, roupas, remédios, um teto, enfim, o mínimo que o dinheiro possa proporcionar fisicamente para o sustento e proteção deste veículo impressionantemente maravilhoso que todos dispomos – alguns, realmente dispõem, no sentido literal.

Para o corpo mental, faz-se necessária uma alimentação mais exigente: educação de qualidade, estímulos sensoriais, um trabalho para – como dizem os mais velhos – manter a cabeça ocupada.

Para o corpo alma, as exigências são mais simples em essência, porém mais trabalhosas de se alcançar: a consciência tranquila, a paz interior, a honestidade, a sinceridade, e por aí vai.

Por fim, para o espírito, apenas uma coisa é necessária: unir-se ao Criador.

E aqui vem a genialidade da frase da música: nós não apenas deixamos de alimentar as pessoas com as necessidades que elas possuem, como também não NOS alimentamos coerentemente. Nossa dieta é falha e desequilibrada em nutrientes extremamente importantes no nosso dia-a-dia, e é isso que causa nossas doenças, nossos desequilíbrios, nossas explosões ou depressões

E, então, vem a segunda parte da frase: mas nós alimentamos as máquinas. Nós gastamos tempo demais alimentando nossos bens materiais, como se fossem o mais importante. Lavamos o carro no domingo, pintamos a casa depois da época das chuvas, escrevemos um update no Twitter (sim, estou escrevendo um blog, e sei que estou alimentando a máquina) e, até mesmo uma refeição – que deveria ser considerada uma forma de alimentar as pessoas – é, hoje, apenas uma carga de combustível para uma máquina.

O que precisamos é inverter nosso olhar, trocar nosso foco, e perceber que, a cada dia que se passa, estamos deixando de ser humanos. Estamos nos tornando máquinas, e, com isso, fica cada vez mais fácil e justificável deixarmos de alimentar as pessoas, e passarmos a alimentar as máquinas.

Deixo aqui, então, a letra completa da música para que reflitam sobre isso.

Territories

Lee, Lifeson & Peart

I see the middle kingdom
Between Heaven and Earth
Like the Chinese call
The country of their birth.

We all figure that our homes
Our homes are set above
Other people than the ones
The ones we know and love.

In every place with a name
They play the same territorial game
Hiding behind the lines
Sending up warning signs.

The whole wide world
An endless universe
Yet we keep looking through
The eyeglass in reverse

Don’t feed the people
But we feed the machines
Can’t really feel what
International means

In different circles
We keep holding our ground
Indifferent circles
We keep spinning
Round and round.

We see so many tribes
Overrun and undermined
While their invaders dream
Of lands they’ve left behind.

Better people, better food
And better beer
Why move around the world
When Eden was so near?

(Chorus)

The bosses get talking so tough
And if that wasn’t evil enough
We get the drunken and passionate pride
Of citizens along for the ride.

They shoot without shame
In the name of a piece of dirt
For a change of accent
Or the color of your shirt.

Better the pride that resides
In a citizen of the world
Than the pride that divides
When a colorful rag is unfurled.

(Chorus)