We Hold On

Atropelado. Não há palavra que melhor descreva meus sentimentos nestas últimas cinco semanas desde que a notícia do falecimento do baterista do Rush, Neil Peart, foi divulgada. E, com a segurança de quem conhece a lealdade dos fãs da banda canadense, afirmo que o sentimento de luto está presente e provavelmente ficará presente para sempre nos corações daqueles que foram tocados pelas letras maravilhosas, pelos arranjos intricados atrás das baquetas mas, principalmente, pela humanidade não apenas do Neil, mas também do Geddy e do Alex.

Lendo comentários no Twitter ou no Reddit – além dos grupos de Whatsapp, a dor permanece. Legiões de fãs – anônimos ou famosos – prestam homenagens pelo conjunto da obra. Até mesmo as piadas que sempre surgem após uma morte ou desastre são incrivelmente de bom gosto, demonstrando o respeito e admiração de todos pela genialidade daquele que é considerado “o baterista favorito do seu baterista favorito”. Por exemplo:

Mas, de forma geral, a reação não apenas de musicistas mas principalmente de pessoas como eu – que escutavam, digo, escutam, uma música do Rush, qualquer uma, e os braços involuntariamente se moviam como se houvesse uma bateria na nossa frente ao mesmo tempo em que cantarolávamos as letras que moldaram nossas vidas – a nossa reação foi e tem sido de tremendo respeito.

Talvez o melhor exemplo que eu possa dar para explicar o relacionamento da banda com os fãs é o episódio relacionado ao Hall da Fama do Rock n’ Roll.

Por anos, quinze para ser exato, não apenas os fãs mas também outros musicistas questionavam o Hall da Fama, uma instituição criada pela revista Rolling Stones, o motivo pelo qual o Rush não havia sido indicado ao Hall da Fama. Silêncio por todos estes anos. Mas todos sabiam que tanto a revista Rolling Stones quanto Jann Wenner, o presidente da revista e do próprio Hall da Fama, nunca foram “com a cara” da banda. Rock progressivo? Esquece! Uma voz estranha? Nem pensar! Virtuosismo musical? De forma alguma.

Então, em 2012, pela primeira vez, o Hall da Fama abriu para os fãs a oportunidade de votar em possíveis indicados, que seriam avaliados. Na votação, Rush ficou em primeiro lugar, disparado, e, finalmente conquistou espaço no Hall da Fama. E, durante a cerimônia de indicação, Jann Wenner – aquele que sempre esnobou o Rush – recebeu dos fãs presentes algo que ele jamais esqueceria, e algo inédito que marcaria a história do Hall da Fama para sempre. Ele anunciou cada um dos presentes:

- From Seattle, the First Ladies of Rock and Roll and their backup band, Heart.
- From Mississippi, one of the finest and most influential blues guitarists of all time, Albert King.
- From Los Angeles, the altogether witty and brilliant singer and composer, Randy Newman.
- From Los Angeles, the man who brought us pop and some of our greatest rock classics, Lou Adler.
- Also from Los Angeles, the happy warrior, the man with the Midas touch, the maestro, Quincy Jones.
- From New York, the man who established hip-hop as a global force and redefined the role of music in politics, Public Enemy.
- From Boston, a woman who could sing anything with anyone at any time, the late, the great, Donna Summer.

E então ele chega no Rush:

- And from Toronto...

Não vou dizer nada a mais. Basta assistir abaixo:

Essa é a reação de amor e respeito dos fãs com a banda.

Uma parte importante da vida dos fãs morreu em 07/01/2020. Mas como o próprio Neil escreveu, nós temos que seguir em frente.

We Hold On

Music by Lee and Lifeson, Lyrics by Peart

How many times
Do we tire of all the little battles
Threaten to call it quits
Tempted to cut and run?

How many times
Do we weather out the stormy evenings?
Long to slam the front door
Drive away into the setting sun

Keep going on ‘til dawn
How many times must another line be drawn?
We could be down and gone
But we hold on

How many times
Do we chaffe against the repetition?
Straining against the faith
Measured out in coffee breaks

How many times
Do we swallow our ambition?
Long to give up the same old way
Find another road to take

Keep going on ‘til dawn
How many times must another line be drawn?
We could be down and gone
But we hold on

Keep holding on so long
‘Cause there’s a chance that we might not be so wrong
We could be down and gone
But we hold on

How many times
Do we wonder if it’s even worth it?
There’s got to be some other way
Way to get me through the day

Keep going on ‘til dawn
How many times must another line be drawn?
We could be down and gone
But we hold on

Temos que honrar a memória dele que tanto nos deu, sem nunca pedir nada em troca. É o mínimo que podemos fazer.

We hold on…