Everyday People

Já há algum tempo, venho pensando em escrever um post sobre Rush. As pessoas que me conhecem sabem que, para mim, o trio canadense formado por Alex Lifeson, Geddy Lee e Neil Peart são mais que uma fonte musical: são inspiração de vida. Eu até costumo dizer (alguma pessoas pensam que é brincadeira) que Rush é minha religião, já que religião (do latim religare) é algo que une a criatura ao Criador.

Desde que fui apresentado à música, Rush tem sido a única constante em minha vida: entrei para a faculdade, saí da faculdade, namorei, casei, tive uma filha, comecei um mestrado, interrompi o mestrado, comecei a trabalhar, mudei de área, tive um filho, mudei de cidade, viajei para fora, voltei, me separei… em todo este tempo, em cada momento da minha vida, as músicas do Rush estiveram presentes, marcando cada passo e compasso de minha vida, moldando quem sou e quem não sou. Enfrentei junto com os três integrantes o grande hiato de 5 anos causado pelas tragédias pessoais do Neil, e chorei a cada momento de alegria ou tristeza.

Seria loucura isso? Uma banda de rock progressivo afetar a vida de uma pessoa de tal forma? Bem, assistindo ao documentário Rush: Beyond The Lighted Stage, isso fica mais claro: eu não sou o único afetado pelas músicas bem escritas, com um nível insano de proficiência musical, e com uma profundidade filosófica que ouso dizer ser mais profunda que muitas religiões (por religião, entenda-se religião, e não negócios religiosos). Músicas que falam de fé, amor, consciência, poder, respeito, verdade. Músicas que falam de perda, dor, sofrimento, tristeza. E músicas que falam de recuperação, vitória, espiritualidade.

Como eu sei que acabarei escrevendo mais sobre Rush, vou escolher uma música para tentar trazer um pouquinho o que sinto quando escuto algo deles: Everyday Glory.

A música começa mostrando um lado mais sombrio da humanidade, um lado em que as sombras dominam, o amor morre, ninguém ri, e os pais ignoram a garotinha que chora convulsivamente:

In the house where nobody laughs
And nobody sleeps
In the house where love lies dying
And the shadows creep

A little girl hides shaking
With her hands on her ears
Pushing back the tears
‘Til the pain disappears.

Mama said some ugly words
Daddy pounds the wall
They can fight about their little girl later
But right now they don’t care at all.

Ao chegar ao refrão, há uma leve demonstração que, independentemente do que se diga, há um raio de esperança:

No matter what they say
No matter what they say
No matter what they say
No matter what they say.

Everyday people
Everyday shame
Everyday promise
Shot down in flames.

Everyday sunrise
Another everyday story
Rise from the ashes a blaze
Of everyday glory.

Mesmo que “forças” tentem nos puxar para cima, acabamos caindo novamente em nossos lados mais sombrios, seja acabando com nossos sonhos ou deixando o desespero aflorar em nossos corações:

In the city where nobody smiles
And nobody dreams
In the city where desperation
Drives the bored to extremes.

Porém, um raio de esperança surge, pois todos temos dentro de nós aquele lado criança, que é a nossa parte mais sábia e verdadeira:

Just one spark of decency
Against the starless night
One glow of hope and dignity
A child can follow the light.

E vem novamente o refrão, reforçando a mensagem:

No matter what they say
No matter what they say
No matter what they say
No matter what they say.

Everyday people
Everyday shame
Everyday promise
Shot down in flames.

Everyday sunrise
Another everyday story
Rise from the ashes a blaze
Of everyday glory.

Após um solo de guitarra emocionante, vem o tapa na cara, que demonstra que não devemos esperar nada de fora da gente. Tudo que precisamos está aqui dentro, dentro de nossas mentes, de nossos corações, e somos nós quem temos que tomar a atitude e mudar:

If the future’s looking dark
We’re the ones who have to shine
If there’s no one in control
We’re the one’s who draw the line.
Though we live in trying times
We’re the ones who have to try
Though we know that time has wings
We’re the ones who have to fly.

E, finalmente, ao repetir o mesmo refrão, mudando algumas frases de ordem, a estrela da esperança finalmente brilha mais forte:

No matter what they say
Rise from the ashes
No matter what they say
In an everyday glory.

Em um mundo de créus, pocotós e “meu amor, você me deixou”, quem sabe a resposta não está dentro de nós mesmos? O que você vai escutar hoje?