Rush: Meu Porto Seguro

A splendid mirage in this desolation…

Muitos de meus amigos, e até mesmo familiares, não entendem o motivo pelo qual sou completamente vidrado pela banda canadense Rush. E não será em um post em um blog que conseguirei expor o que duas décadas de vivências e experiências com Alex “Lerxst” Lifeson, Geddy “Dirk” Lee e Neil “The Professor” Peart proporcionaram. Mas, devido ao lançamento iminente de mais um CD, chamado Clockwork Angels (que já ouvi!), de uma das bandas de maior sucesso (e, ouso afirmar, com a maior base de fãs) no mundo, nada melhor do que comemorar com um pequeno texto.

Hoje em dia, vivemos em um mundo em que a velocidade das coisas em geral é muito alta. Os bebês usam iPads, meninas de 10 anos saem para namorar, “sucessos” (?!?) musicais surgem e desaparecem mais rápido do que um piscar de olhos, e a fama é algo muito volátil. Ao mesmo tempo, conceitos como a família, amizade, honra, dedicação são muitas vezes deixados de lado em benefício (ou malefício) do lucro, às vezes inescrupuloso. Corrupção, tramas políticas, crises econômicas, crises ambientais, tudo isso tem se tornado uma constante em nossa sociedade atualmente.

O resultado é que, muitas vezes, as pessoas procuram um ponto de apoio para manter sua sanidade e humanidade. Infelizmente alguns se refugiam nas drogas, outros no sexo desenfreado ou desvirtuado. Mas uma parcela considerável busca uma porto seguro, que os permita adquirir forças e continuar navegando por esses mares de ignorância e insegurança. Interessantemente, li uma frase recentemente:

Um barco no porto está seguro, mas não foi para isto que o barco foi construído.

Desconhecido

O meu porto seguro se chama Rush.

Formada em 1969 por Alex Lifeson, Geddy Lee e John Rutsey (que ficou até 1974, quando foi substituído por Neil Peart), Rush tem diversas qualidades, tais como:

  • Técnica musical assombrosa: os três já foram eleitos como os melhores em suas áreas por diversas revistas especializadas. Basta pequisar na Wikipedia, por exemplo, por Neil Peart, e ver a seção de prêmios.
  • Capacidade de inovação e criatividade: procure escutar todas as músicas (mais de 160) e encontrar duas que sejam semelhantes.
  • Progressivos: após lançar o álbum que é considerado o maior sucesso deles – Moving Pictures -, ao invés de colherem os louros, decidiram mudar de estilo completamente, lançando Signals.

Porém, não é apenas isso que os torna únicos. Como foi dito no documentário Beyond The Lighted Stage, eles são a maior banda cult do mundo, não apenas por causa da inteligência das letras de músicas escritas pelo Neil Peart e pelas qualidades que listei acima, mas, principalmente, pela amizade entre Alex, Geddy e Neil.

Esta amizade é o ponto chave, o eixo central de mais de 40 anos de união e de boa música. Uma amizade que está acima do ego de cada um deles. Uma amizade e pureza que não se vê em praticamente nenhum outro grupo musical.

Eles são seres humanos.

Mas não para por aí. Há o aspecto familiar, ainda. Alex Lifeson é casado com sua primeira e única namorada, e o Geddy Lee se casou com uma amiga que o próprio Alex apresentou. Ambos são pessoas que prezam pela família acima de tudo.

Já o Neil Peart se casou duas vezes, mas não por escolha própria. Em 10 de agosto de 1997, sua única filha Selena morreu em um acidente de carro. Devastados pela tragédia, ele e sua esposa Jackie foram para Londres, para sair de Toronto. Dez meses depois, Jackie morria de câncer, deixando Neil completamente perdido. Ele pegou sua moto, e atravessou a América do Norte de costa a costa, ao longo de vários meses. Isso foi o que o manteve a salvo, e depois se tornou o tema da música e do livro Ghost Rider. Durante este período de recuperação, ele conheceu Carrie Nuttall, com quem depois veio a se casar, e hoje tem uma filhinha, Olivia.

Durante este período, a banda Rush deixou de existir. Tanto o Alex quanto o Geddy fizeram um disco solo cada um, e participaram em outros trabalhos, mas, para eles, não havia mais Rush. Como disse Geddy Lee no documentário: “Eu não quero tocar no Rush sem um dos dois. Isto não é possível.”

Esta é a força da banda: a amizade, o amor, a dedicação entre si, que fazem com que a música deles seja verdadeira, emotiva, brilhante, sensacional.

Esse é o meu porto seguro.

The measure of a time
Is a measure of love and respect
So hard to earn, so easily burned

In the fullness of time
A garden to nurture and protect…