Violência Urbana

Muitos amigos meus (não todos, claro) me criticam às vezes por eu ser tão seletivo em relação às músicas que escuto, ou até mesmo ao fato de eu simplesmente não ouvir rádio. Já foram tantas e tantas vezes que ouvi críticas sobre isso que, ultimamente, fico simplesmente quieto. Gosto é gosto, e não se discute.

Mas hoje de manhã, durante a minha rotineira falta de rotina (a qual envolve, por exemplo, nunca colocar o despertador para tocar no mesmo horário por dois dias seguidos, entre outras coisinhas mais), coloquei o celular para tocar uma música, aleatória. A música que tocou foi A Farewell To Kings, do Rush (grande novidade essa, eu estar escutando Rush).

O que chamou a minha atenção é que a música, apesar de ser de um disco de 1977, fala com uma clareza assustadora de coisas que acontecem hoje:

Cities full of hatred, fear and lies
Withered hearts and cruel tormented eyes
Scheming demons dressed in kingly guise
Beating down the multitude
And scoffing at the wise

Quando interpretados para o nosso idioma, nos fornecem esta pérola:

Cidades cheias de raiva, medo e mentiras
Corações vazios, e olhos cruéis e atormentados
Demônios manipuladores em disfarces da realeza
Derrubando a multidão
E zombando dos sábios

Ao escutar estas palavras, me senti nas ruas do Egito, Líbia e tantos outros países, com seus Ahmadinejads e seus Kadafis, sendo surrado e perseguido, torturado e morto, me sentindo parte da multidão ou (pretensão minha) dos sábios. E, mesmo já tendo visto várias cenas destes países, nada foi tão capaz de me colocar no contexto histórico do que uma música.

Músicas são feitas para nos transportar para outros lugares, para que tenhamos uma experiência que seja importante para nós, não importa se boa ou ruim. Aliás, acredito que toda experiência é boa; o que pode não ser tão bom é a nossa ressonância com essa experiência.

Além disso, a música boa, na minha opinião, tem de ser atemporal: não importa quando você a escute, algo tem de refletir dentro de você. Se um cantor ou cantora, ou um grupo simplesmente some do mapa depois de um sucesso relâmpago, será que realmente foi um sucesso?!? Será que um Justin Bieber estará fazendo sucesso daqui a 5 anos? Será que uma Amy Winehouse ainda estará no topo das paradas daqui a 3 anos? Músicos bons são raros de se encontrar, e, uma vez encontrados, devem, sim, ser questionados o tempo inteiro. Como disse Jack Black: “Você tem que sentir… ainda há ressonância depois de 25 anos? Este é o único teste verdadeiro… o teste do tempo.”.

Parafraseando o ditado: diga-me o que escutas, que te direi quem és!

Eu continuo com o meu bom e sempre novo Rush!